“E o homem se enriqueceu sobremaneira, e
teve grandes rebanhos, servas,
servos, camelos e jumentos.” (Gn 30:43)
Depois do nascimento de seus filhos Jacó tencionava voltar
para Canaã, mas é persuadido por seu sogro para ficar mais um tempo (Gn
30:25-27). Para atender o convite firmaram um acordo entre eles, no qual Labão
permitia que todas as cabras e ovelhas escuras, manchadas e salpicadas,
existentes ou a nascerem, seriam de Jacó como pagamento por seus serviços (Gn
31:29-36).
Usando de esperteza e querendo levar vantagem colocava o
rebanho junto a plantas que manchavam os animais quando se coçavam (Gn
30:37-42). Em seis anos Jacó prosperou e converteu-se num homem muito rico (Gn
30:43).
Era tempo de Jacó voltar para Canaã e o Senhor Deus apareceu
a ele dizendo que voltasse para a terra de seus pais e para sua parentela (Gn 31:3,13).
Suas esposas, Raquel e Léia concordaram e o apoiaram (Gn 31:17-18). Sem que Labão
soubesse, Jacó levantou acampamento e fugiu com tudo o que era seu e, ainda,
Raquel furtou os ídolos que pertenciam a seu pai (Gn 31:19-20).
Jacó, agarrador de calcanhar, suplantador, trapaceiro,
negociador, que depois de casar, formar família e prosperar em seus bens
materiais, teve que fugir da casa de Labão em consequência de suas atitudes.
Ao saber da fuga de Jacó, três dias depois (Gn 31:22), Labão
saiu em seu alcanço e após uma semana de perseguição, numa viagem de mais de
quatrocentos quilômetros, alcançou-o na montanha de Gileade.
No encontro, Jacó foi repreendido por ter saído sem avisar,
impedindo Labão de se despedir de suas filhas (Gn 31: 26-28). Entretanto, Deus
havia avisado ao enfurecido Labão que não fizesse mal a Jacó (Gn 31:29).
O incidente causou preocupações a Labão que estava
interessado em recuperar as imagens que Raquel havia roubado (Gn 31:19, 30), das
quais Jacó nada sabia (Gn 31:32).
Na região onde vivia Labão a posse de imagens por um filho
era a prova de que este era o herdeiro principal. Raquel roubou as imagens
porque Labão considerava as filhas estrangeiras e as tinha vendido a Jacó (Gn
29:15). A posse das imagens garantia, assim, o direito a herança do pai.
As imagens, conhecidas como Terafins (II Rs 23:24), eram deuses
domésticos ou pessoais que protegiam o lar ou a pessoa que os detinha. Uma
espécie de “anjo da guarda”. Acreditava-se que, se uma pessoa possuísse o
Terafim da família, estava garantida uma herança maior na morte do líder. Os
Terafins tinham-se agarrado à alma do povo em toda a jornada de Israel no
deserto. Raquel, embora esposa de Jacó, não compreendia suficientemente as
coisas espirituais e por isso não conseguiu se livrar da crença.
Ao ser acusado de roubo e após uma rigorosa vistoria nas
tendas de suas esposas, por Labão e seus homens, sem nada encontrarem, devido a
astúcia de Raquel (Gn 31:32-35), que sentou-se sobre o local onde estava
escondida a imagem alegando não poder se levantar por estar com incômodo das
mulheres (Gn 31:35). Jacó convencido de sua inocência, irou-se (Gn 31:36) e teve
coragem para dar um ultimato a Labão estabelecendo uma fronteira entre eles com
o compromisso de não agressão. O resultado foi um acordo e uma separação
amigável (Gn 31:44-55).
As características do acordo entre Jacó e Labão, incluíam
Deus como testemunha (Gn 31:49, 53), uma coluna e um montão de pedras como
divisas de território (Gn 31:52) e uma refeição cerimonial para selar o acordo
(Gn 31:54), mas a suspeita permeava toda a negociação (Gn 31:50).
No final do acordo com Jacó, seu sogro Labão acrescentou as
palavras “vigie o Senhor entre mim e ti,
quando estivermos afastados um do outro” (Gn 31:49).
Uma leitura descuidada do texto acima, fora do contexto, tem
sido mal aplicada no meio da comunidade cristã. O texto é muitas vezes usado
como benção em término de reuniões. Proferir aquelas palavras não é sinal de
benção, comunhão ou companheirismo. Pelo contrário o texto fala de separação,
ameaça e aviso.
O monte de pedra era a delimitação de uma fronteira entre os
que fizeram o acordo. Quem quebrasse o acordo necessitaria de ajuda de Deus,
porque o outro poderia matá-lo. O monte de pedras significava: “se passares
desta divisa, te matarei”.
Jacó nunca fez uso das imagens que Raquel havia roubado de
seu pai e, posteriormente aos acontecimentos, reuniu a sua família e todos que
estavam com ele para se livrarem dos deuses estranhos no meio deles e ordenou
que as imagens fossem enterradas debaixo de um carvalho em Siquém (Gn 35:2-4).
Assim chegou Jacó a Canaã com todo o seu povo e ali edificou
um altar e chamou o lugar de El-Betel, porque ali Deus se manifestou quando
fugia da casa de Labão (Gn 35:6-7).
Mesmo explorado pelo tio, mas tão esperto quanto ele, Jacó
revelou-se um grande negociador. É abençoado e volta para a sua terra com uma
descendência numerosa e posse material respeitosa.
Quando o Senhor promete abençoar alguém, nada interferirá.
Ainda mais se tratando de Jacó, que era descendente da promessa feita a Abraão
nos seguintes termos: “E estabelecerei o
meu pacto contigo e com a tua descendência depois de ti em suas gerações, como
pacto perpétuo, para te ser como Deus a ti e à tua descendência depois de ti”
(Gn 17:7).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
1. Reservamos o direito de não publicar críticas negativas de "anônimos". Identifique-se por seu e-mail e pela URL de seu blog ou home page e terá sua opinião publicada.
2. Os comentários serão aprovados segundo nossos critérios. Somente publicaremos os comentários que atendam propósitos relativo ao tema.
3. Discordar não é problema. Na maioria das vezes pode redundar em edificação e aprendizado. Contudo, faça-o com educação. Não toleraremos palavreado torpe, ofensivo e inconveniente.